quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Hora da Leitura: A princesa e o Piolho


Há muito tempo atrás, num reino distante, uma linda Princesa era penteada por sua ama. Até que a ama achou, nos longos cabelos da Princesa, um piolho. A Princesa ficou admirada com aquilo. Resolveu guardar o bicho numa caixinha. O tempo foi passando, e o piolho crescendo na caixinha. A Princesa teve que passar o bicho para uma caixa maior... e para outra... e outra... até que o bicho ficou enorme. Mostrou o piolho ao Rei. E o monarca teve uma idéia. Matou o bicho e arrancou o couro. Mandou fazer um banquinho com o couro e disse para a rainha e a filha guardarem segredo. Depois baixou um decreto: Aquele que adivinhasse de que bicho era o couro daquele banquinho ganharia a mão da Princesa.




A notícia se espalhou pelo reino e por outros reinos. Primeiro vieram os filhos dos reis, mas nenhum deles descobriu. Depois, os filhos dos nobres, mas também não descobriram. Em seguida, os filhos dos ricos... os filhos dos menos ricos, mas nenhum deles descobriu. Vieram então, os pobres e os miseráveis, mas eles também não descobriam. A Princesa, que de início gostou da brincadeira, já estava ficando chateada. Tinha medo de não arrumar casamento.

Perto dali, vivia uma velha bem velha com um filho com cara de bobo. O rapaz que se chamava João, decidiu ir ao reino tentar adivinhar o enigma. A velha desaconselhou-o, mas o rapaz estava decidido. A velha então preparou uma merenda para o filho e ele partiu. Andou bastante, até que veio a noite. Estava se preparando para comer a merenda quando apareceu um velho. O velho pediu um pouco de comida e João convidou-o para sentar e comer. Os dois comeram à vontade. Depois João armou sua rede e ofereceu para o velho dormir. João dormiria ali pelo chão mesmo. O velho agradeceu e disse que tinha poderes mágicos. Tirou três fiapos de sua roupa e entregou a João dizendo que, quando ele precisasse, era só queimar um dos fiapos e talvez seu desejo se realizasse. Depois foi embora. João guardou os fiapos e dormiu.

No dia seguinte, continuou viagem até chegar ao castelo. Na porta do castelo havia uma fila de mendigos. João entrou na fila. Iam de quatro em quatro para tentar adivinhar o enigma. Até que chegou a vez de João e outros três. Entraram na sala do trono e viram o Rei, a Rainha e a Princesa cercada de amas. O Rei tomou a frente e perguntou:

- Então, de que bicho é o couro desse banquinho?
O primeiro mendigo disse:
- É couro de rato!
- Não é!
O segundo disse:
- É couro de lagartixa!
- Não é!
O terceiro disse:
- É couro de tatu!
- Não é!

João foi para perto da janela, pegou um dos fiapos e queimou. Palavras não foram ditas, mas na cabeça de João surgiu a imagem de um piolho. João achou estranho, mas aproximou-se do Rei e disse:

- É couro de piolho!
- E é! Acertou!!

O Rei ficou satisfeito. Mas a Princesa não gostou nada daquilo. Ela não queria casar com aquele sujeito com cara de bobo que nem bonito era. A jovem falou com Rei. O monarca chamou João e disse:
- João, está tudo muito certo, mas antes de casar com a Princesa você terá que cumprir umas tarefas. Terá que levar ao pasto cem coelhos. E no final do dia me trazer os coelhos todos sem perder nenhum.
João aceitou. Ele sabia que levar cem coelhos ao pasto era o mesmo que levar ao pasto cem moscas. Impossível. Mas...

No dia seguinte, entregaram os coelhos a João. Quando abriram a porta do castelo os coelhos todos fugiram. João foi andando tranqüilamente até o pasto. Quando chegou lá, pegou o segundo fiapo e queimou. Palavras não foram ditas, mas apareceu na frente de João uma flautinha. O rapaz soprou a flauta e os cem coelhos apareceram na sua frente enfileirados como guardas. João dispersou os coelhos e esperou o final do dia. Na hora certa, foi até ao castelo. Quando chegou lá, tocou a flautinha e os cem coelhos apareceram enfileirados como guardas. João chamou e Rei e disse:

- Estão aí os coelhos. Pode contá-los.

E estavam lá os cem bichos enfileirados. A Princesa reclamou de novo com o Rei. E o monarca mandou que João repetisse a operação no dia seguinte.
E assim foi. No dia seguinte, João saiu com seus coelhos. Mas a Princesa mandou que uma de suas amas pegasse um coelho do cara de bobo. A moça foi e pediu o coelho. João lhe disse:

- Dar, não dou! Mas vendo! Vendo por um beijo!

A moça ficou ofendida. Disse ser recatada e que aquilo era um absurdo. Mas como era ordem da Princesa deu o beijo em João. O rapaz entregou o coelho e ama saiu correndo. Quando estava chegando no castelo, João soprou a flautinha. O bicho esperneou para um lado... esperneou para o outro... e escapou da moça. A Princesa quando soube ficou danada. Mandou outra ama para realizar a tarefa. A outra moça foi e pediu o coelho. João lhe disse:

- Dar, não dou! Mas vendo! Vendo por dois beijos!

A moça ficou ofendida. Disse que era um abuso e coisa e tal. Mas como era ordem da Princesa deu os beijos em João. O rapaz entregou o coelho e a ama saiu correndo. Quando estava perto do castelo, João tocou a flautinha. O bicho esperneou para um lado... para outro... e escapou da moça. A Princesa quando soube ficou mais danada ainda e disse:

- Quem quer vai, quem não quer manda!!

E foi pedir o coelho a João. O rapaz lhe disse:
- Dar, não dou! Nem vendo! Mas troco! Troco por sua blusa!

A Princesa ficou muito ofendida. Era um acinte. Mas João estava decidido. A Princesa foi para trás de uma árvore, tirou sua blusa e se enrolou no xale. Entregou a blusa a João que lhe deu um coelho. A jovem correu, mas quando estava chegando no castelo, João soprou a flautinha. O bicho esperneou por um lado... por outro... e escapou. No final do dia, João foi para o castelo levando os coelhos. A Princesa já não estava achando o João tão feio assim. Mas era teimosa. E depois da história da blusa não queria nada com ele. E o Rei falou para João:

- Está tudo muito bom. Mas você vai realizar mais uma tarefa. Na hora da ceia, eu quero um saco cheio de mentiras.

João aceitou. Apesar de saber que juntar mentiras num saco e o mesmo que contar todas as estrelas do céu. Impossível. Mas... João foi para seu quarto e queimou o último fiapo. Dessa vez palavras foram ditas, mas no ouvido de João. Na hora da ceia, foi entregue a João um saco vazio. Estavam lá o Rei, a Rainha e a Princesa cercada de suas amas. João pegou o saco, ficou na frente da primeira ama e disse:

- Conheço uma ama da Princesa que comprou um coelho por um beijo!
- É mentira!

Gritou a ama. João fez como se colhesse uma fruta e mostrou ao Rei.
- Já começou a ficar cheio, Majestade!

Foi até a segunda ama e disse:
- Conheço uma ama da Princesa que comprou um coelho por dois beijos!
- É mentira!!

Gritou a ama. João repetiu e gesto e mostrou o saco ao Rei.
- Já está pela metade, Majestade!

Foi até a Princesa e disse:
- Conheço uma Princesa que trocou sua blusa por um coelho!
- É mentira!!!

Gritou a Princesa. João repetiu o gesto e mostrou o saco ao Rei.
- Pronto! O saco está cheio de mentiras, Majestade!

O Rei, já sem saber o que fazer, disse:
- Agora só depende da Princesa...

A Princesa, que já não achava o rapaz tão feio, ficou encantada com esperteza de João. Olhou para um lado... olhou para outro... e aceitou. João casou-se com a Princesa e fizeram uma grande festa de casamento. Eu estive lá, na festa. E trouxe umas compotas para vocês. Mas na ladeira do Conclins tropecei e quebrei meu nariz.
Adaptação de Augusto Pessôa do conto popular
“COURO DE PIOLHO”

Um comentário:

  1. Nossa! Adorei! Vou passar essa história amanhã para meus alunos. Obrigada!

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